segunda-feira, 20 de setembro de 2010

PERMACULTURA

A zona um, na permacultura, é limítrofe com a casa, e produz a maior parte do alimento da família. Nela podemos – e devemos – criar um mundo de hortas, reciclagem de nutrientes e micro-manejo intensivo de recursos. As sociedades tradicionais aprenderam cedo como maximizar a produção de alimentos desta zona, pela integração de pequenos animais no sistema, produzindo esterco localmente. Ainda mais importante, introduziram a conveniência da produção de proteína animal a poucos passos da porta da cozinha.

Todos os lares do império Inca, independentes do tamanho ou da localização, produziam sua proteína animal com a criação de Preás (ou porco da índia). Quando os conquistadores espanhóis invadiram o México e o Peru, descobriram que as grandes cidades indígenas eram auto produtoras de alimentos e, conseqüentemente, fabulosamente ricas. Quando Herman Cortez, o conquistador espanhol, entrou na cidade do México em 1542 (já na era moderna), esta já contava com aproximadamente um milhão de habitantes, que por sua parte, se auto sustentavam. Imagine a reação destes soldados, estrategicamente treinados para cercar fortalezas, descobrindo a inutilidade de suas técnicas, quando cercavam uma cidade que produzia tudo que necessitava. Hoje, no terceiro milênio, a única metrópole que experimenta se auto sustentar é a cidade de Havana, em Cuba.

Em Manaus, no Instituto de Permacultura da Amazônia (IPA), escolhemos os coelhos, como sistema animal primário para nossa zona 1. A breve história e descrição de nossos sistema, que pode ser adaptado a qualquer lugar, segue:
Construímos uma estrutura de 3 x 5 metros de área, coberta com telhado de zinco e apoiada em seis esteios de 3 metros. O telhado pode ser coberto de qualquer coisa que proteja da chuva, nós usamos palha por cima do zinco. No piso, construímos dois canteiros de tijolos de meio metro de profundidade, cada um com 3 metros de comprimento e meio metro de largura. Estes canteiros tem uma declividade de 7 centímetros entre uma ponta e outra, e na parte mais baixa, colocamos dois drenos de 5 cm, que drenam em dois pequenos tanques de cimento de 50 x 50 x 50 cm.

Logo acima dos canteiros, penduramos 14 gaiolas de coelhos, de forma que o esterco caia diretamente nos canteiros. Aqui nós temos uma escolha: podemos manter o canteiro cheio com esterco de coelho ou podemos depositar, em primeiro lugar, uma camada de composto colonizado com minhocas. O esterco de coelho se acumula sobre esta camada, provendo alimento constante para as minhocas, que são retiradas todo mês.

Normalmente utilizamos os dois sistemas simultaneamente, porque juntos nos permitem maiores opções. Consideramos o húmus indispensável elemento na produção de hortaliças e no plantio de árvores. Cada metro cúbico de húmus, que é removido mensalmente, é adicionado diretamente as nossas frutíferas da zona um. O esterco de coelho, mesmo quando fresco, não “queima” como o esterco de galinha, porque é consistência mais fibrosa. Para uma produção adicional, ocasionalmente molhamos o canteiro para produzir o chorume que drena os tanques.

Alimentamos nossos coelhos com Pueraria phaseloides, a nossa cobertura leguminosa da floresta com alimentos, e com um punhado de ração concentrada diária. Assim, muitas folhas e galhos da Pueraria caem diretamente das gaiolas para os canteiros, ajudando na absorção de grande parte da urina dos coelhos, que pode ser muito concentrada.

Podemos dizer que um sistema de coelhos projetado apropriadamente ocupa 15 metros quadrados e pode ter até sete funções produtivas, o que traduz em boa permacultura. Todas as sete funções servem diretamente aos principais elementos integrados no sistema da zona um:

· Água da chuva do telhado é coletada e armazenada para consumo dos coelhos;
· Os coelhos produzem carne ou são adquiridos como animais de estimação muito populares;
· Coelhos também produzem peles;
· Além do esterco que é alimento para a população de minhocas;
· As minhocas se alimentam do esterco e produzem húmus;
· A declividade dos canteiros permite a coleta de chorume, um valioso fertilizante orgânico coletado nos tanques de cimento.

Este sistema necessita de somente uma hora diária de manejo, e em nossa experiência se torna o motor da produtividade da zona um. Dois ou mais destes sistemas combinados podem gerar uma produção comercial de hortaliças orgânicas para o pequeno produtor. O custo total da estrutura, incluindo os dois canteiros, está entre R$75 a R$100 (o IPA está tão satisfeito com este sistema que recentemente construímos outro maior, com 20 gaiolas).

O período de gestação de uma coelha é de 30 dias, e as crias são em numero mínimo de 7 em cada ciclo. Estes filhotes ficam com a mãe por 30 dias e depois de crescerem por mais 30 dias podemos vendê-los em Manaus por R$10 cada um. Um macho é necessário para cada seis fêmeas. Em 14 gaiolas, 12 são ocupadas por fêmeas, que produzem 84 filhotes para vender a cada 90 dias, perfazendo um total de R$840. As vendas anuais somam R$3360 e depois de deduzir os custos da ração concentrada e outros custos mínimos, existe um lucro líquido de R$2800, sem contar o ganho da possível venda dos outros produtos: minhocas, húmus ou chorume.

Então existe muita atividade acontecendo em um pequeno espaço. De fato, o mundo inteiro está cheio de pequenos espaços que gradativamente estão ganhando importância. Por exemplo: nas superpopulosas ilhas do Japão é necessário importar quase toda a proteína animal para as pessoas, por falta de espaço. Aqui os hambúrgueres feitos de minhoca tem se tornado muito populares. A carne é considerada mais nutritiva. Será que Cortez imaginaria isso?


*Ali Sharif é precursos da permacultura na América Latina. Atualmente é designer permacultor do Instituto de Permacultura da Amazônia (IPA), e-mail ipa@buriti.com.br



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Esta reportagem foi extraída da revista
“Permacultura Brasil”, numero 7, página 6
e 7, para fins didáticos.
+ informações www.permacultura.org.br

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